DOR FÍSICA x DOR EMOCIONAL
"O maior medo do ser humano, depois do medo da morte, é o medo da dor.
Dor física: um corte, uma picada, uma ardência, uma distenção, uma
fratura, uma cárie. Dor que só cessa com analgésico, no caso de ser uma
dor comum, ou com morfina, quando é uma dor insuportável. Mas é a dor
emocional a mais temível, porque essa não tem medicamento que dê jeito.
Uma vez, conversando com uma amiga, ficamos nessa discussão por horas: o
que é mais dolorido, ter o braço quebrado ou o coração? Uma pessoa que
foi rejeitada pelo seu amor sofre menos ou mais do que quem levou 20
pontos no supercílio? Dores absolutamente diferentes. Eu acho que dói
mais a dor emocional, aquela que sangra por dentro. Qualquer mãe
preferiria ter úlcera para o resto da vida do que conviver com o vazio
causado pela morte de um filho.
As estatísticas não mentem: é mais fácil ser atingida por uma depressão
do que por uma bala perdida. Existe médico para baixo astral?
Psicanalistas. E remédio? Anti-depressivos. Funcionam? Funcionam, mas
não com a rapidez de uma injeção, não com a eficiência de uma cirurgia.
Certas feridas não ficam à mostra. Acabar com a dor da baixa-estima é
bem mais demorado do que acabar com uma dor localizada.
Parece absurdo que alguém possa sofrer num dia de céu azul, na beira do
mar, numa festa, num bar. Parece exagero dizer que alguém que leve uma
pancada na cabeça sofrerá menos do que alguém que for demitido. Onde
está o hematoma causado pelo desemprego, onde está a cicatriz da fome,
onde está o gesso imobilizando a dor de um preconceito? Custamos a
respeitar as dores invisíveis, para as quais não existem
prontos-socorros. Não adianta assoprar que não passa.
Tenho um respeito tremendo por quem sofre em silêncio, principalmente
pelos que sofrem por amor. Perder a companhia de quem se ama pode ser
uma mutilação tão séria quanto a sofrida por Lars Grael, só que os
outros não enxergam a parte que nos falta, e por isso tendem a
menosprezar nosso martírio. O próprio iatista terá sua dor emocional
prolongada por algum tempo, diante da nova realidade que enfrenta.
Nenhuma fisgada se compara à dor de um destino alterado para sempre."
Martha Medeiros
Sunday, December 23, 2012
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